Sensores enormes, câmeras diminuta


Novas câmeras fotográficas digitais da Canon e Panasonic diminuem ainda mais a diferença entre os modelos domésticos e profissionais
David Pogue / New York Times
Porque ninguém constrói a câmera perfeita? Não é necessário abraçar o mundo, basta preencher alguns requisitos:
1. Pequena o suficiente para caber no bolso da calça, 2. Sensor grande, 3. Lentes intercambiáveis, 4. Controles simples e bem organizados, 5. Controle manual completo, 6. Modos de cena pré-programados para os iniciantes, 7. "Boot" super-rápido, 8. Sem atraso no obturador (o intervalo de tempo entre você apertar o botão e a câmera tirar a foto), 9. Sem borrões sob pouca luz, 10. Visor óptico (viewfinder), 11. Tela imensa, 12. Estabilizador de imagem, 13. Reconhecimento de face para retratos perfeitos, 14. A capacidade de tirar fotos em RAW (formato preferido pelos fotógrafos, já que lhes permite melhor controle sobre a imagem usando ferramentas com o Photoshop), 15. Excelente modo de fotografia sequencial (burst mode). Algo como cinco fotos por segundo, 16. Lente grande-angular, 17. Lente superzoom, 18. Botões personalizáveis, 19. Captura de vídeo em alta definição, 20. Baixo custo
É pedir demais?
Ideais impossíveis à parte, o principal fator que nos impede de ter tudo isto em uma única câmera é uma coisinha chata chamada "física". Por exemplo, não dá para ter tela grande e viewfinder ao mesmo tempo em uma câmera pequena. Não dá pra ter preço baixo e boot rápido (processadores mais rápidos são mais caros). E não dá pra ter um sensor grande em uma câmera pequena porque... peraí, acho que isso dá.
Esta é uma análise de duas novas câmeras que vem deixando os fanáticos por fotografia com água na boca há meses: a Canon PowerShot S90 (US$ 412) e a Panasonic Lumix GF1 (US$ 870, ambos os preços nos EUA). Os preços são muito mais altos que os de câmeras de tamanho similar, mas estes modelos representam grandes e impressionantes saltos tecnológicos quando o assunto é a combinação entre o tamanho da câmera e do sensor.
E porque deveríamos nos importar? Bem, entre os fatores que determinam a qualidade de uma foto, um sensor grande é o mais importante. Um sensor grande geralmente significa melhor cor e nitidez, menos grão e menos fotos tremidas mesmo em cenas com pouca luz. Câmeras Single-Lens Reflex (SLR) tem sensores enormes, e é por isto que os profissionais as usam. Mas as SLR também são enormes, e é por isso que 92% dos consumidores ainda compra câmeras "de bolso".
A Canon S90 não tira fotos com a mesma qualidade de uma SLR, mas chega mais perto do que qualquer outra câmera de bolso já chegou, por causa de três avanços.
O primeiro é o sensor grande. São 0.59 polegadas na diagonal, 37% maior que o da maioria das câmeras de bolso. E ele tem "apenas" 10 megapixels, o que significa que cada elemento sensor de luz pode ser muito maior, o que significa que ele capta muito mais luz. De fato, a S90 tem o mesmo sensor e eletrônica que a Canon G11, que é muito maior.
O segundo é o fato de que a S90 tem uma lente de cair o queixo, f/2.0. Ela deixa passar duas vezes mais luz através do vidro do que a maioria das lentes em câmeras de bolso.
Terceiro: a S90 tem um grande anel ao redor da lente, o que lhe permite fazer ajustes rápidos sem ter que ficar chafurdando em menus. Quais ajustes? Você escolhe. Com o apertar de um botão é possível redefinir a função do anel: zoom, foco manual, ajuste de exposição, balanço de branco, ISO (sensibilidade à luz), velocidade do obturador ou abertura. Dá pra girar o anel, clicar, girar mais, clicar e nunca tirar seus olhos da tela.
Mas como todas as câmeras de bolso, a S90 tem dificuldade em criar aquele efeito de "sujeito em foco, fundo fora de foco" que é quase marca-registrada da fotografia com SLRs. E, por alguma razão, a S90 só captura vídeo em definição padrão.
Mas olhe só: fotos sem flash na noite de Halloween? Sem problemas. Retratos dentro de casa? É só clicar. Eu até mesmo levei a S90 para um passeio através de um túnel escuro em um parque temático, e tive que apagar apenas uma pequena percentagem das fotos por causa de borrões.
A S90 pode não ter todos os itens da minha "lista de desejos da câmera perfeita", mas oferece mais que qualquer outra câmera de bolso: para ser exato, os itens 1,2,4,5,6,7,9,11,12,13,14,16,18 e 20.
De fato, posso até dizer com todas as letras: esta câmera tira fotos melhores que qualquer outra câmera de bolso atualmente no mercado.
E isto não é um feito pequeno, considerando sua principal rival: a Panasonic Lumix LX3 (US$ 480), que já está no mercado há um ano. Esta câmera de bolso introduziu muitas das inovações que tornam a Canon especial: a lente f/2.0, o sensor grande (0.61 polegadas), imagens RAW e por aí vai. Mas a LX3 também grava vídeo em alta-definição e tem um conector para flash externo. As fotos geralmente são ótimas.
Por outro lado, a S90 é mais fina e mais estreita. Custa US$ 65 menos. O zoom é muito mais poderoso (3.8x contra 2.5x). A tampa da lente é automática e integrada, e não um pedaço de plástico removível como na LX3. A as cores são mais vivas (pesquisa da Canon indica que os consumidores no ocidente preferem imagens com cores extra-vibrantes, mesmo que elas não reflitam a realidade).
Entretanto, não dá para dizer que a Panasonic está fora do jogo. Em 2008 ela se uniu à Olympus para apresentar um novo e radical formato de câmera híbrida batizado de Micro Four Thirds (Micro Quatro-Terços). Estas câmeras se parecem muito com a SLRs (lentes intercambiáveis, modo sequencial de alta velocidade, baixo atraso do obturador, sensor grande) mas sem a "caixa de espelhos" entre a lente e seu olho. Portanto, a câmera pode ser muito menor que as SLRs "de verdade", mesmo com um sensor com 80% do tamanho do encontrado nelas.
Os primeiros modelos da Panasonic, a G1 e GH1, não eram nada menores que as SLRs - e custavam muito mais. Eventualmente, a Olympus lançou um modelo Micro Four Thirds muito menor (a EP-1, que cabe no bolso de um casaco), que tira fotos incríveis mas não tem flash, demora para encontrar o foco e custa muito caro.
Mas com sua nova Lumix GF1 a Panasonic finalmente começou a explorar o potencial de seu próprio formato de câmera. Com 11.9 x 7.1 x 3.5 centímetros, a GF1 é a menor câmera com flash e lentes intercambiáveis no mercado. Cabe no bolso do casaco, mesmo com sua lente zoom de 3x (também é possível adquirí-la com uma lente "pancake" de 20 milímetros e sem zoom, que não interfere no tamanho).
O sensor de 0.89 polegadas da GF1 ainda não é do tamanho de um sensor de uma SLR, então não tem exatamente a mesma sensibilidade à luz. O foco é rápido mas não instantâneo, como seria em uma SLR. E por enquanto só há seis lentes Micro Four Thirds no mercado (embora seja possível usar lentes Four Thirds e Leica com vários adaptadores, às custas do foco automático, estabilizador de imagem e tamanho).
Por outro lado, a GF1 tem seus próprios truques. Seu tamanho menor é menos suscetível a intimidar quem está sendo fotografado. E ela cabe num bolso de casaco, mesmo com as lentes zoom.
E ela é uma estrela do vídeo em alta definição. É possível mudar o zoom e foco durante a gravação de vídeo - algo que as SLRs não podem fazer - embora reajustar o foco leve cerca de um segundo. Vídeos não tem limitação de tamanho: dá pra gravar todo o musical da escola em um cartão de memória de 16 GB. E há um botão "gravar" exclusivo, então você nunca precisará alternar manualmente entre os modos de foto e vídeo.
A GF1 tem os recursos 2 a 9 e 11 a 18 de nossa lista, sem falar em várias funções incomuns como o reconhecimento de rostos (etiquetando sozinha as pessoas nas fotos como "Tio Zé", "Mamãe" e por aí vai) e uma autonomia de bateria impressionante.
Você pode notar que nenhuma das câmeras mencionadas neste artigo tem um visor óptico (item 10 da lista): isto porque os consumidores já deixaram claro que preferem uma tela maior a um visor. As telas, entretanto, são soberbas e você não vai sentir falta do visor. A tela da S90, em particular, fica mais brilhante como mágica quando no escuro, para que você possa enquadrar melhor a cena. E por US$ 200 dá para adicionar um viewfinder eletrônico à GF1.
Mas imagens valem mais do que mil palavras. Dê uma olhada no slideshow que acompanha este artigo, em www.nytimes.com/tech.

Resumindo a história: estas câmeras orgulhosamente criam um novo patamar entre as pequenas câmeras que cabem no bolso da camisa e as grandes SLR. Nenhuma delas tem todos os recursos de nossa lista, mas nenhuma câmera nunca terá. Mas se você estiver disposto a pagar o dobro por melhores fotos e menor tamanho, elas chegam mais perto de nosso ideal do que qualquer outra câmera jamais chegou.

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